Durante quatro
dias de apresentações, participantes aprenderam sobre precificação, criação de
produtos de baixo custo e equilíbrio de contratos, entre outras dicas de
especialistas
Para solucionar as
dúvidas que costumam surgir no dia a dia de suas Singulares, a Unimed Federação
Centro Brasileira realizou a “Semana Atuarial – Ciência atuarial para não
atuários”, dos dias 6 a 9 de agosto, de forma online.
Durante a abertura do evento, o presidente da Federação, Danúbio Antonio de Oliveira,
lembrou a importância do controle dos números e finanças das cooperativas.
“Temos que trabalhar bem os dados e nada melhor do que os atuários para nos
assessorar, na gestão como um todo e nas questões de sinistralidade”.
O primeiro tema da Semana foi a precificação dos planos de saúde, quando o
gerente Atuarial da Unimed Federação Mato Grosso, Wagner Borges, estimulou a
reflexão sobre a quantidade de planos oferecidos e a necessidade de reavaliar e
redirecionar com maior assertividade o que é comercializado ao público.
Ele apresentou algumas perguntas que devem ser respondidas antes da criação de
um novo produto ou para repensar a manutenção dele:
- O novo plano combate alguma
concorrência ou atinge um público diferente?
- Qual redirecionamento dar aos que já
existem?
- Faz parte da estratégia agregar
produtos à operadora?
- Quem irá comercializar?
“São várias as
ideias que temos que discutir antes de determinar o preço. Quando começamos a
precificação sem essa análise, temos chances de fracassar ou ficar frustrados
com algum ponto”, ressaltou o especialista, que é pós-graduado em Gestão
Financeira e Estratégia Organizacional.
A sustentabilidade da saúde suplementar
No segundo dia de
evento, a atuária e pesquisadora na área de pacto intergeracional, Samara
Lauar, apresentou os desafios para a sustentabilidade da saúde
suplementar.
Ela descreveu dados
que revelam o atual cenário das operadoras de planos de saúde, como o aumento
da sinistralidade, que passou de 83%, em 2014, para 88%, em 2024, segundo o
estudo “Caderno de Informação da Saúde Suplementar”.
A partir disso, Samara mostrou como o atual modo de financiamento das
operadoras, o mutualismo, em que muitas pessoas pagam para que outras possam
utilizar, gera ameaças à sustentabilidade.
Uma alternativa
seria o pacto intergeracional, em que os jovens contribuem para o uso dos mais
velhos. Porém, também existem desafios nesse âmbito, por exemplo, o avanço do
envelhecimento populacional e o aumento dos custos para essa faixa etária.
“Temos menos pessoas pagando para uma despesa maior”, resumiu ela.
No entanto, carteiras com muitos beneficiários jovens nem sempre são ideais,
como lembrou Samara, em razão dos custos de terapias de neurodesenvolvimento,
como o Transtorno do Espectro Autista (TEA). “Para algumas operadoras, os
maiores custos estão nas faixas (etárias) das extremidades. Elas são
sustentadas por quem está no meio da pirâmide etária”.
Para driblar tais
dificuldades, Samara afirmou que é preciso agir estrategicamente, com
monitoramento contínuo das tabelas de preços, que permite a verificação de
possíveis riscos em tempo hábil. Também é necessário buscar a eficiência de
recursos, reduzindo fraudes e desperdícios. “Com essas mudanças, podemos ainda
melhorar os serviços proporcionados aos nossos beneficiários”, concluiu.
Como aplicar os produtos de baixo custo?
Em continuidade à Semana Atuarial, o terceiro dia de aprendizado teve como tema
a elaboração e aplicação de produtos de baixo custo, com as explicações do
atuário da Unimed Federação Centro Brasileira, Murillo Oliveira.
Ele explicou que tais produtos com preços menores recebem maior atenção em um
cenário em que as empresas não oferecem mais o benefício completo do plano de
saúde aos funcionários, além dos custos acima da inflação e a alta
judicialização vivida pelas operadoras.
“Como operadora, temos que equilibrar o custo com a qualidade oferecida aos
beneficiários, sem esquecer da sustentabilidade financeira. Então, é preciso
analisar se é possível se manter sustentável ao criar e oferecer um produto de
baixo custo”, descreveu ele, que acrescentou a necessidade de observar as ações
da concorrência.
O especialista listou os principais passos para a criação de um produto do
tipo:
- Conhecer o perfil da operadora e ter
dados estruturados;
- Estudar as tendências atuais e futuras;
- Gestão de riscos;
- Simulações de cobertura;
- Planejamento estratégico;
- Engajamento: o monitoramento das
premissas do produto.
Murillo alertou ainda para a importância da criação de critérios rigorosos de
inscrição e programas de gestão de saúde, a fim de evitar o aumento da
sinistralidade, como ao atrair pacientes com mais necessidades de
assistência.
Outro risco a ser evitado é a insatisfação do beneficiário em razão do aumento
de burocracias para o atendimento. “Antes de lançar o produto, todas as áreas
precisam passar por um treinamento, para promover um esclarecimento de como
tudo irá funcionar. Deve existir uma sinergia para que haja
rentabilidade", aconselhou e lembrou também sobre a análise da
regulamentação e viabilidade da nova oferta de plano.
O equilíbrio atuarial
Para finalizar a Semana Atuarial, o superintendente atuarial da Unimed do
Brasil, Saulo Lacerda, apresentou as condutas que ajudam a alcançar o
equilíbrio atuarial, especialmente em contratos coletivos.
“Não há como falar sobre equilíbrio sem precificação e reajuste. Quanto melhor
a precificação, menor será a necessidade de reajuste. Quando o preço é definido
corretamente, no ano seguinte, o contrato fica equilibrado”, afirmou ele.
Assim, as alterações nos valores são embasadas pelo aumento dos custos dos
serviços, não pela sinistralidade.
Para que a precificação seja correta, Saulo orientou criar uma rede específica
direcionada ao público de cada operadora. “Você não pode ofertar na zona rural
um preço feito para São Paulo, Goiânia ou outros grandes centros”,
exemplificou.
Mais um erro a ser evitado é interpretar a coparticipação como uma fonte de
receita, sendo que, na verdade, é uma forma de gestão de risco. “É uma
inibidora de utilização exagerada ou indevida. Porém, a coparticipação não pode
ter um valor alto a ponto de impedir o tratamento, fazendo com que o paciente
não procure o médico e vá ao pronto-socorro, onde irá gastar mais”,
alertou.
Por fim, o reajuste deve ser realizado de forma prospectiva, ou seja,
analisando o que pode ocorrer no futuro. “Não podemos reajustar olhando para o
passado. Temos que entender o que está acontecendo no presente e tentar prever
o futuro”, aconselhou.
O serviço atuarial da Unimed Federação Centro Brasileira
Promover educação
continuada às Singulares é uma das missões da Unimed Federação Centro
Brasileira, como ressaltou o diretor de Integração e Desenvolvimento
Institucional, Éder Cássio Rocha Ribeiro. “A programação (da Semana Atuarial)
foi elaborada com muito carinho e trabalho para termos um conteúdo técnico.
Sabemos a importância de precificar bem um produto e os estudos para gerir uma
carteira”.
Além do ensino, a
entidade também se prepara para ofertar auxílio prático às Federadas, como
divulgou o diretor-superintendente Martúlio Nunes Gomes. “A Federação utilizava
a equipe atuarial da Unimed do Brasil, mas contratamos um atuário próprio, que
também irá contribuir com as necessidades das nossas Singulares. Afinal, a
função da Federação é essa, cooperar com nossas operadoras”, anunciou.