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Opinião: A preocupante amizade indestrutível

João Alfredo Lopes Nyegray*


O dia 12 de junho certamente foi marcado por vários encontros com tom amoroso e cordial. Ainda que o Brasil seja um dos únicos países que celebra o Dia dos Namorados em 12/06 – ao invés de fazê-lo no Dia de São Valentim em 14/02 – houve na Venezuela outro encontro em tom igualmente amistoso, entre Ebrahim Raisi – presidente do Irã – e Nicolás Maduro, o autoritário líder do não democrático país vizinho. Venezuela e Irã compartilham, além de grandes reservas de petróleo, uma animosidade com os Estados Unidos e a União Europeia, que são grandes parceiros comerciais do Brasil. 

O Irã e os EUA possuem um histórico de desconfiança e antagonismo mútuo que remonta à Revolução Islâmica de 1979, quando o Irã derrubou a monarquia apoiada pelos EUA e estabeleceu um regime islâmico liderado pelo Aiatolá Khomeini. Desde então, houve uma série de eventos que agravaram ainda mais as tensões, como o sequestro da embaixada americana em Teerã, o apoio iraniano a grupos considerados terroristas pelos EUA (como o Hezbollah) e o programa nuclear iraniano, que gerou preocupações internacionais. Além disso, há a proximidade dos EUA com Israel e Arábia Saudita, o que marca políticas divergentes dos dois países (EUA e Irã) em relação ao Oriente Médio, o que também tem contribuído para a falta de aproximação diplomática entre as nações.

O caso de animosidade entre EUA e Venezuela, por outro lado, é mais recente. Desde a ascensão do governo do falecido presidente Hugo Chávez, a Venezuela adotou políticas socialistas e estatistas, culpando os EUA por muitos de seus notáveis fracassos econômicos. Desde o governo Chávez, Caracas vem reprimindo manifestações populares e desrespeitando Direitos Humanos numa democracia cada vez mais corroída. Todos esses fatores levaram os EUA a impor sanções econômicas e medidas restritivas contra o governo venezuelano. Além disso, há outras questões complexas nos desentendimentos Caracas-Washington, como o narcotráfico e as acusações de colaboração com grupos considerados terroristas.

Em 2018, após as amplamente contestadas eleições venezuelanas, os EUA não reconheceram o governo de Nicolás Maduro, tendo considerado que Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional, deveria assumir a presidência interina até a realização de eleições justas e livres – o que até hoje não aconteceu.

Inimigos jurados dos EUA, Irã e Venezuela reuniram-se na semana passada na primeira visita de Ebrahim Raisi a Caracas. O presidente iraniano também visitou outros dois países autoritários da América do Sul: Cuba e Nicarágua. Em Caracas, Raisi e Maduro assinaram um plano de cooperação de 20 anos, que evidencia uma aliança estratégica entre os dois países em meio às sanções impostas pelos Estados Unidos. Esse longevo acordo abrange diversos setores, como petróleo, petroquímica, defesa, agricultura, turismo e cultura. No entanto, o destaque está na assistência que o Irã fornecerá à Venezuela para reparos em suas refinarias, visando superar a escassez de gasolina e diesel no país sul-americano. 

Desafiando a pressão estadunidense, o Irã enviou cargas de combustível e forneceu peças de reposição, garantindo suprimentos essenciais para o setor petrolífero da Venezuela. Além disso, a extensão do acordo de swap entre Irã e Venezuela permitirá a troca de condensado iraniano por petróleo pesado venezuelano. A participação da refinaria estatal iraniana NIORDC nos projetos de reparo e modernização das refinarias El Palito, Amuay e Cardón destaca o compromisso do Irã em fortalecer os setores de produção e destilação de petróleo na Venezuela, o que ocorrerá também em benefício próprio. 

Foi nesse encontro da semana passada que Nicolás Maduro afirmou que Irã e Venezuela possuem uma “amizade indestrutível” e “grandes frentes de cooperação”. Há que se destacar que Irã, Venezuela, Cuba e Nicarágua possuem um outro grande amigo: a Rússia. Portanto, pode-se perceber que esse é mais do que um movimento de simples países “não alinhados” ao Ocidente ou ao Oriente. Trata-se claramente de um encontro daqueles que repudiam a democracia e os direitos humanos.

*João Alfredo Lopes Nyegray é doutor e mestre em Internacionalização e Estratégia. Especialista em Negócios Internacionais. Advogado, graduado em Relações Internacionais. Coordenador do curso de Comércio Exterior na Universidade Positivo (UP). Instagram: @janyegray

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