Professores do curso de Relações Internacionais do UniCuritiba analisam o conflito no leste europeu e descartam chance de um acordo de paz imediato
A guerra entre a Rússia e a Ucrânia completa um ano em meio à maior ofensiva russa desde o início da invasão ao território ucraniano, em 24 de fevereiro de 2022. Sem perspectivas imediatas de um acordo de paz, a situação no leste europeu é avaliada pelos professores Priscila Caneparo e Andrew Traumann, do curso de Relações Internacionais do UniCuritiba – instituição que faz parte da Ânima Educação, uma das maiores organizações de ensino superior do país.
Doutor em História, Cultura e Poder, o especialista em Direito do Comércio e da Integração Internacional Andrew Traumann diz que a guerra contrariou as expectativas de uma resolução rápida, como foi o caso da anexação da Crimeia pela Rússia em 2014. “Com o apoio da Otan e dos Estados Unidos à Ucrânia, a guerra com a Rússia parece longe do fim. Além disso, é esperada uma contraofensiva russa durante a primavera do hemisfério norte. O país não cogita uma derrota, principalmente porque tem China e Irã como aliados”, diz.
A professora Priscila Caneparo, doutora em Direito das Relações Econômicas Internacionais e delegada da Diplomacia Civil para a Organização Mundial do Comércio e para o Conselho Econômico e Social da ONU concorda. “Esta guerra tem uma perspectiva histórica, que começou em 2012 e 2013 quando a Rússia invadiu a Crimeia e, desde então, segue requerendo o leste ucraniano”.
Além disso, o apoio oferecido à Ucrânia é um fator capaz de prolongar o litígio. Priscila lembra, por exemplo, que a Alemanha não se envolvia em um conflito desta natureza desde a Segunda Guerra Mundial, mas agora enviou armamentos aos ucranianos. “Estamos diante de uma guerra que não é apenas territorial, mas de retórica entre o oriente e o ocidente. A Índia, que sempre foi parceira dos Estados Unidos, desta vez se mantém silente e a Rússia conta ainda com a retaguarda da China”, pondera.
A professora de Relações Internacionais do UniCuritiba dá outro exemplo: a guerra com a Ucrânia serviu como um laboratório para a China avaliar o que aconteceria se ela, porventura, invadisse Taiwan. “Ou seja, só teremos o fim da guerra quando ela colocar em risco os interesses econômicos e geopolíticos da China”.
Apoio internacional
A entrada da Ucrânia no cenário internacional e a “proteção” que recebe do ocidente interfere no desfecho do conflito. “O ocidente vem pautando as ações da Ucrânia, que segue firme defendendo seu território”, diz Priscila Caneparo.
Segundo Andrew Traumann, a intenção da Ucrânia é obter uma vitória definitiva e humilhante para Moscou. Já a Otan e, principalmente, os Estados Unidos - que embora já tenham fornecido armamentos à Ucrânia - defendem uma paz negociada, evitando o desequilíbrio geopolítico na região. “A ideia dos aliados é escalar o conflito para facilitar a negociação, não necessariamente com a humilhação total da Rússia”.
Em relação a outros grandes conflitos, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia tem poucos diferenciais, comenta Andrew Traumann. Ainda que a evolução das tecnologias empregadas na guerra seja visível, as semelhanças com outros episódios históricos são inegáveis: tentativa de dominação de um território (assim como se viu durante a Segunda Guerra Mundial), tomada de locais estratégicos, guerra de desgaste e de trincheiras (a exemplo da Primeira Guerra Mundial).
“Neste sentido, fora as tecnologias dos armamentos e mísseis, esta é uma guerra clássica”, afirma o professor, que completa: “Vladimir Putin não aceitará ser deposto e jamais assumirá uma derrota humilhante. Sem meio termo e sem um dos lados disposto a ceder, a situação se complica”.
Reflexos mundiais
Com infraestrutura extremamente abalada, a estimativa é de que a reconstrução da Ucrânia aos mesmos padrões pré-guerra demore mais de cem anos. Um reflexo do conflito em 2023, lista a professora Priscila Caneparo, é a insegurança alimentar, já que grande parte dos grãos que abastece o mercado norte da Europa eram da Ucrânia.
Outra questão é a dependência ocidental de gás e petróleo russos. “Todos os preços tiveram aumento na Europa e a grande pergunta é: até quando o contribuinte terá tolerância para sustentar esse esforço de guerra?”, questiona Andrew Traumann.
Para Priscila, esses temas tornam a guerra internacional, muito diferente das guerras civis da África, das situações que envolvem Iêmen, Sudão, Iraque ou Síria. “Não se trata apenas de uma crise humanitária, mas de um conflito que envolve dois estados. Há muito tempo o ocidente não interferia em uma guerra desta natureza, que discute, basicamente, a soberania dos envolvidos”, diz a especialista.
O futuro, aponta a delegada da ONU, é incerto. “Vladimir Putin é imprevisível, individualista e incapaz de cumprir com a palavra. No mês passado, anunciou trégua em respeito ao Natal ortodoxo, mas não respeitou sua própria decisão. A verdade é que a Rússia nunca aceitou bem a independência dos países do leste europeu e, portanto, sabemos que fará novos ataques em pontos estratégicos”.
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