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Opinião: Educação financeira se aprende na escola

 

Bartolomeu de Gusmão Júnior*

Lidar com o dinheiro de forma consciente pode até parecer uma atividade simples. No entanto, na prática, esse raciocínio fica bem mais complexo para a maioria das pessoas. A dificuldade pode ser acompanhada por meio da realidade financeira da maior parte dos brasileiros. Dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) apontam que 8 a cada 10 pessoas estão endividadas no Brasil, ou seja, 79,3% das famílias brasileiras estavam endividadas em setembro deste ano. Esse é o maior volume de endividados desde 2010, quando teve início a série histórica monitorada pelo CNC. Diante desse cenário, em que um percentual altíssimo de famílias brasileiras estão endividadas, as crianças não têm os seus pais como referência nesse tema.

A educação financeira tem como objetivo promover um bem-estar financeiro ao longo da vida. Ela ajuda as pessoas não só a economizar, mas também a usar o dinheiro para realizar seus sonhos e conquistar metas a longo prazo. E quanto mais cedo isso acontecer, melhor. Aprender a poupar e investir de forma consciente estimula independência financeira e ajuda crianças e jovens a lidarem de forma equilibrada com o dinheiro na vida adulta. A questão é comportamental. Viemos de uma sociedade em que a maioria dos pais estão endividados e os avós também foram endividados. Então, por que a próxima geração não será endividada? Essa lógica precisa ser descontruída na base, que é a escola.

A educação financeira é um dos temas a serem desenvolvidos dentro do componente curricular Matemática, podendo ser abordado desde os anos iniciais da etapa do Ensino Fundamental, perpassando por todos os anos até o Ensino Médio. Apesar do Ministério da Educação ter tornado obrigatório o tema de educação financeira nas escolas em 2020 – as instituições de ensino precisam atender às novas diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) –, as escolas têm dificuldade em implementar esse tema pela falta de professores capacitados para atender essa demanda que envolve competências multidisciplinares.

A aprendizagem da matemática mais significativa, que prepara melhor para o futuro, deve seguir etapas. O primeiro passo é fazer com que o aluno saiba distinguir a necessidade da vontade e, depois, fazê-los aplicarem essa teoria em suas vidas. A disciplina é eficaz quando começa no ensino básico, mostrando para as crianças, de forma lúdica e em pequenas ações, o que é supérfluo e o que é necessário. Assim, passam a olhar o dinheiro de uma forma mais cuidadosa, sabendo dar valor a esse recurso a partir do esforço que fizeram para consegui-lo.

Os projetos devem ser aplicados à realidade do aluno, orientados com base na própria vida. Desta forma, encontrará uma utilidade para o aprendizado. Quanto mais próximo da realidade dele, mais sentido e significado o saber terá. Isso é imprescindível, precisa ter contexto.

As pessoas devem ser educadas sobre questões financeiras o mais cedo possível em suas vidas. É possível trabalhar educação financeira com história, geografia, português, enfim. É como ensinar responsabilidade social. Quando têm acesso à educação financeira desde cedo, tornam-se adultos mais responsáveis com o dinheiro, além de melhores planejadores, investidores e consumidores mais conscientes. A matemática financeira, por exemplo, pode se tornar mais interessante para os estudantes se as operações estiverem ligadas às aplicações financeiras, empréstimos, renegociação de dívidas, ou mesmo, tarefas simples, como calcular o valor de desconto num determinado produto.

Ainda que muitos pais enxerguem a educação financeira como um conhecimento necessário para seus filhos, falta que o tema seja amplamente debatido, sobretudo nas escolas. Trata-se de uma discussão muito necessária, afinal, adultos sem educação financeira têm mais chances de gastar de forma descontrolada e de se endividar.

*Bartolomeu de Gusmão Júnior, matemático, engenheiro civil e empresário

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