Gabriel Cordeiro*
Muito tem se falado sobre o tal de “turismo da vacina”. Essa categoria de viagem surgiu recentemente devido à pandemia da Covid-19. Os destinos estão sendo buscados por brasileiros com a esperança de conseguirem a vacina antes do tempo previsto por aqui.
No dia 11 de maio, o prefeito de Nova Iorque, Bill de Blasio, com autorização do governo estadual, declarou que a cidade está pronta para começar a atender a demanda de turistas pela vacina. Essa “propaganda”, somada ao fato da campanha de vacinação do Brasil estar acontecendo em menor escala e o percentual de pessoas vacinadas com a segunda dose estar na casa dos 10%, estimulou muitos brasileiros a pensar em viajar como uma maneira de agilizar o processo de vacinação.
O aumento na procura por viagens aos Estados Unidos – não só mais a lazer, mas por motivos de saúde – fez com que as agências de viagens oferecessem planos organizados de acordo com as regras de entrada de estrangeiros no país. Porém, é preciso entender que esses pacotes não são – e nem podem ser – uma promessa de imunização. São muitos fatores envolvidos.
Muita gente se esquece de verificar o prazo de validade de vistos e passaportes, que podem ter vencido durante a pandemia e a pessoa ainda não se deu conta. Além disso, antes de desembarcar em território norte americano, é preciso cumprir uma quarentena de 15 dias em outra região, que esteja aceitando brasileiros e tenha o trânsito com EUA liberado, como é o caso do México. Outro fator importante é ter em mente que algumas vacinas precisam de duas doses, e que os brasileiros que estão viajando para serem vacinados estão com a expectativa de tomar a vacina da Johnson & Johnson que é apenas uma aplicação, no entanto, não existem garantias de que ela estará disponível.
Também é necessário apresentar um teste com resultado negativo para coronavírus antes de poder ingressar nos EUA feito com menos de 3 dias do dia da entrada. Mais uma implicação: se contrair a doença durante a logística de entrada no país, o processo demora ainda mais, pois terá que remarcar toda a viagem com taxas de alteração, além de cobranças para prolongar a hospedagem, seja no meio ou no fim da viagem. Então se formos calcular, sem complicações, é preciso disponibilizar nas melhores hipóteses pelo menos 20 dias de estadia no exterior. Além disso, o retorno para o Brasil não é tão simples já que o país exige PCR para a entrada mesmo de viajantes vacinados.
Em 2021, o desejo por uma viagem de descanso e para aliviar a tensão provocada pela pandemia também aumentou. A retomada gradativa do turismo trouxe uma expectativa positiva para aqueles que estão há mais de um ano sem ver o mundo. Há grupos de pessoas que aproveitam que o tempo despendido na viagem é longo para criarem momentos de lazer. O cenário global moldou a nossa maneira de viver e, por isso, é compreensível que haja muita ansiedade para realizar qualquer atividade que saia um pouco dessa nova rotina.
Porém, o que precisamos ter em mente, de maneira muito clara, é que as agências de viagem oferecem pacotes somente de viagem, e não de vacinação. Não há como assegurar que realmente seja efetivada a imunização, já que isso depende de regras que podem mudar, e da disponibilidade de vacinas , que também é incerta.
A intenção dos agentes de viagens é sempre facilitar a vida do cliente final e auxiliar no processo de planejamento de uma viagem, durante e pós viagem. Ou seja, é preciso cuidar com promessas encantadoras e falsas garantias de imunização. Agora, se houver disponibilidade de mais de 20 dias viajando, ter a possibilidade de desembolsar um valor considerável, talvez o “turismo da vacina” seja pra você. Pelo menos, para tentar.
*Gabriel Cordeiro é gerente geral da BWT Operadora.